Alsace et Bastille

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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Os privados gerem melhor do que o público? Veremos!

Concessão da linha de Cascais a privados vai reduzir oferta de serviços


Sem investimento em novo material circulante, os horários para a linha de Cascais serão os possíveis: haverá menos comboios por dia e com paragens em todas as estações. Consulta pública será lançada em breve, garante o Governo.

Além da redução da frequência, cada comboio terá também menos capacidade Sandra Ribeiro
As simulações para os horários da linha de Cascais quando esta for concessionada prevêem uma redução da oferta face à actual, desaparecendo os chamados comboios rápidos e assentando o modelo numa frequência mais espaçada e com paragens em todas as estações.
Esta redução na oferta é justificada pela falta de comboios, uma vez que os actuais estão no fim do seu período de vida útil e está afastada a compra de novo material circulante porque isso iria encarecer a concessão. A solução passa por recorrer ao material excedentário da frota da CP Lisboa e afectá-lo à linha de Cascais.
Actualmente, a CP só utiliza cerca de dois terços das automotoras UQE (Unidades Quádruplas Eléctricas) que são usuais na linha de Sintra e dispõe também de três comboios de dois pisos a mais. Sem dinheiro para investir – e baseado na teoria de que o óptimo é inimigo do bom – o Governo deverá incluir no caderno de encargos este material, com o qual o concessionário será obrigado a prestar o serviço possível, inferior ao actual.
Além da redução da frequência (menos comboios por hora sobretudo fora das horas de ponta), cada comboio terá também menos capacidade, uma vez que as composições só terão quatro carruagens em vez das sete actuais. E se forem usados comboios de dois pisos, o tempo de paragem nas estações será maior dos que os 30 segundos actuais pois o acesso às portas é mais difícil.
O concurso que está a ser elaborado pretende dar margem de manobra aos candidatos para propor novas e mais imaginativas soluções para o serviço. Mas fontes ligadas ao processo dizem que “sem novos comboios é impossível manter o serviço actual”.
A boa notícia é que é de esperar que acabem as supressões devido a avarias de material, como aconteceu em vários dias da semana passada. Entre 1 e 18 de Agosto, segundo dados da CP, foram suprimidos 4% dos comboios na linha de Cascais. Parece pouco mas esse valor representa 157 comboios cancelados em apenas três semanas.
O motivo é sempre o mesmo: os comboios da linha de Cascais são velhos, apesar de terem sido objecto de uma modernização nos anos 90. Há, por exemplo, motores cuja concepção original é de 1959. E os motores mais novos datam de 1979. Já todos foram rebobinados, levaram novos segmentos, mas estão desadequados e têm uma manutenção caríssima. Aliás, devido ao seu envelhecimento, a frota de Cascais é hoje a mais dispendiosa de todo o parque da CP.
Para ajudar a resolver os problemas dos motores, a EMEF (empresa de manutenção da CP) pediu ajuda à Faculdade de Engenharia do Porto, procurando, assim, o milagre de fazer durar mais seis ou sete anos material que está em fim de vida. E não se limita a reparar os motores nas suas oficinas de Oeiras – alguns vão ser arranjados ao Barreiro e ao Entroncamento para acelerar o processo e voltar a pôr os comboios na linha.
Perguntar-se-á, então, por que motivo não se afecta já à linha de Cascais as outras composições da CP. Por quê esperar pela concessão? Porque entre o Cais do Sodré e Cascais a alimentação eléctrica é feita a 1500 volts em corrente contínua e nas restantes linhas da Refer é a 25.000 volts em corrente alterna. Vai ser necessário investir primeiro na mudança da corrente eléctrica e na própria sinalização da linha, que lhe está associada.
O ideal seria modernizar também a infra-estrutura, mas, sem dinheiro, o Governo está a estudar uma solução minimalista que consiste em mudar apenas a electrificação e a sinalização, mantendo os carris, as travessas e o balastro tal como estão. A falta de dinheiro, pelo menos, leva a soluções criativas. Em vez de se construir uma nova subestação eléctrica para alimentar a linha a 25.000 volts, a Refer prevê usar a subestação do Fogueteiro e fazer chegar a electricidade à linha de Cascais através de um cabo de alta tensão que baixará por um dos pilares da ponte 25 de Abril até Alcântara.
A concessão da linha de Cascais a privados foi anunciada pelo actual Governo em Novembro de 2011, no Plano Estratégico dos Transportes apresentado à troika. A operação faz, aliás, parte de um projecto mais vasto, que abrange também a concessão da Metro de Lisboa, Carris, Metro do Porto, STCP e Transtejo.
O processo relacionado com a CP chegou a ser apontado como o piloto das concessões, mas acabou por ficar em stand by durante largos meses. No Verão do ano passado, o Governo criou um grupo de trabalho para preparar a operação, mas o processo pouco evoluiu.
Questionado sobre a concessão da linha de Cascais, o Ministério da Economia adiantou ao PÚBLICO que "o processo de consulta pública deverá ter início nos próximos dias". A tutela acrescentou que, "depois de concluído esse processo serão conhecidas as opções relativas ao modelo da concessão".

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